“A Serra Amarela é um dos ermos mais perfeitos de Portugal.
Situada entre o Gerês e o Lindoso, as suas dobras são largas,
fundas e solenes. Sem capelas e sem romarias, cruzam-na os
lobos, os javalis e as corças. A praga dos pinheiros oficiais ainda
lá não chegou. De maneira que mora nela o sopro claro das livres
asas e o riso aberto dos grandes sóis. Não há estradas, senão as
da raposa matreira, nem pousadas, senão as cabanas dos
pastores. É Portugal nuclear, a Ibéria na sua pureza essencial e
granítica. Um pé de azevinho aqui, urzes milenárias acolá, um
carvalho numa garganta, nenhum coração de entre o Douro e
Minho pode deixar de se sentir aquecido e reconfortado em
semelhante chão.”
Situada entre o Gerês e o Lindoso, as suas dobras são largas,
fundas e solenes. Sem capelas e sem romarias, cruzam-na os
lobos, os javalis e as corças. A praga dos pinheiros oficiais ainda
lá não chegou. De maneira que mora nela o sopro claro das livres
asas e o riso aberto dos grandes sóis. Não há estradas, senão as
da raposa matreira, nem pousadas, senão as cabanas dos
pastores. É Portugal nuclear, a Ibéria na sua pureza essencial e
granítica. Um pé de azevinho aqui, urzes milenárias acolá, um
carvalho numa garganta, nenhum coração de entre o Douro e
Minho pode deixar de se sentir aquecido e reconfortado em
semelhante chão.”
Miguel Torga, 1945
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