domingo, 24 de janeiro de 2010

Arte Rupestre em Perigo

Jornal de Notícias, 18/01/10, por CARLOS RUI ABREU E ISABEL PEIXOTO


No Minho, há vários tipos de património arqueológico que estão ameaçados pela intervenção humana e que preocupam os arqueólogos que mais de perto lidam com os achados da região. Guimarães, Braga e Fafe são áreas já sinalizadas.

Dois painéis de gravuras rupestres localizados no jardim de uma moradia em Donim, concelho de Guimarães, foram totalmente destruídos. A denúncia é feita pela Sociedade Martins Sarmento (SMS), instituição cultural da cidade fundada em 1881.

Técnicos da SMS dirigiram-se recentemente ao local, no âmbito da elaboração de uma publicação científica, e encontraram também, parcialmente destruído, um terceiro painel, de maiores dimensões. Foi afectado pela construção de um muro de cimento, enquanto os dois primeiros foram destruídos recorrendo ao balde de uma máquina escavadora. "Construiu-se um muro sobre um dos painéis, mas os outros dois, onde estava o cavalo, foram destruídos. Destruíram-nos com uma retroescavadora", constatou Gonçalo Cruz, arqueólogo da sociedade.

Queixa no Ministério Público

As gravuras mais expressivas, nomeadamente uma representação de um zoomorfo (cavalo), foram destruídas. A referida figura era, até agora, a única conhecida na região. "No painel mais visível, estava bem nítido um cavalo, com a zona do dorso, da crina e do focinho, embora as patas estivessem um pouco apagadas", explicou, ao JN, Gonçalo Cruz.

Verdadeiramente desolador é como a estrutura classifica o cenário encontrado, revelador, de acordo com a instituição, de "um acto de destruição gratuita". Condenando "com veemência" o que considera ser "puro vandalismo", a sociedade refere que em causa estão "representações milenares de incalculável valor científico, patrimonial e simbólico".

A SMS acrescenta que a situação foi comunicada à Câmara de Guimarães e ao Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (IGESPAR). Além disso, está em equação uma queixa para o Ministério Público para se indagar da intencionalidade da destruição do núcleo rupestre.

Identificado em Novembro de 2006 (e que não constava dos registos do século XIX deixados pelo arqueólogo Francisco Martins Sarmento), o núcleo de gravuras rupestres situa-se no jardim de uma pequena moradia. Desde Fevereiro de 2007, está incluído na carta arqueológica que faz parte do Plano Director Municipal.

A Sociedade Martins Sarmento acrescenta que, das várias vezes que se deslocaram ao local, os técnicos da instituição nunca encontraram o proprietário da moradia, mas explicaram a familiares o valor arqueológico do conjunto.

Contudo, existem na região outros núcleos rupestres diferentes do agora destruído que podem igualmente estar em perigo, mas por motivos distintos. "Há muitos núcleos rupestres ameaçados, mas por factores humanos indirectos. Os incêndios provocam muito calor, que faz estalar as rochas, que, depois, juntando à erosão, as destroem por completo", garantiu o arqueólogo.

Ainda recentemente, os elementos da equipa da SMS se aperceberam de que estava quase a ser perpetrada uma destruição de outro núcleo rupestre junto ao Castro de Sabroso, em Braga, mas aí ainda foram a tempo de salvar o património. "Conseguimos evitar porque detectámos uma terraplanagem e alertámos a Câmara Municipal e o IGESPAR, que depois tomaram as devidas providências", exemplificou.

Também em Fafe paira a ameaça sobre vestígios pré-históricos, que poderão ser destruídos sucumbindo à pressão urbanística. A ATRIUM, uma associação local de defesa do património, refere a existência de um túmulo já soterrado pelo depósito de entulhos clandestinos e outro muito próximo de uma zona habitacional que também pode desaparecer.

Esta associação prepara-se para apresentar, brevemente, um plano de salvação para os monumentos arqueológicos do concelho.

Um Abraço Galaico

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