sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

O Simbolo do Caminho Milenar do Apóstolo - A Vieira

Pois é, a Vieira, que os peregrinos levam pelo Caminho, porquê uma Vieira? Existem algumas histórias e uma delas até é discutida na Gallaecia entre os do Norte e os do Sul do Minho. Conhecem um lugar camado Bouças? Eu conheço, era o nome anterior do lugar que agora se chama Matosinhos. Matosinhos...que origem tem este nome? Matizado. Matizadinho. Matosinhos.

Para descrever melhor esta história nada mais indicado que um texto retirado do livro Senhor de Matosinhos - Lenda. História e Património da autoria de Joel Cleto.

“Será durante este lendário transporte marítimo do corpo martirizado do santo desde a Palestina até à Galiza que ocorrerá o episódio que explica a associação da vieira a Santiago. Tal viagem, repleta de acontecimentos fabulosos e miraculosos, incluirá, com efeito, um encontro da embarcação que transporta o corpo do santo com um cavaleiro que ficará recoberto de vieiras, dando origem a esta associação e à importância simbólica que, a partir daí, esta concha assumirá no culto de Santiago. Diversas obras artísticas retratando este episódio, datadas do século XV, existentes em Itália e na Península Ibérica, não deixam grandes dúvidas sobre a grande difusão que, já então, tal lenda conheceria. Mas, que nos conta essa narrativa tradicional e para onde, para que cenário, nos remete?


Matosinhos é, desde há 400 anos, o local apontado como o da origem da associação da vieira à devoção a Santiago de Compostela. Desde então praticamente todas as versões redigidas da lenda, em Portugal, mas também em Espanha (Castellá Ferrer 1610, Cunha 1623, Cardoso 1666, Huerta y Veja 1736, Pinto 1737…) indicam como palco dos acontecimentos um vasto areal no lugar de Bouças (designação, até ao início do século XX, do actual concelho de Matosinhos). Foi esse o local escolhido, pela sua vastidão e largueza, pelo grande senhor romano da região, Cayo Carpo, para realizar as festas do seu casamento. A praia do Espinheiro. Correria o ano de 44 d.C.

Durante tais festividades, o noivo desafia os restantes cavaleiros para uma corrida invulgar de cavalos: venceria quem conseguisse penetrar mais longe mar adentro. Iniciada a prova, rapidamente Cayo Carpo se destacará dos restantes competidores. Para sua surpresa, e de todos os que permanecem no areal, o seu cavalo avança, desenfreado, em direcção ao horizonte e, miraculosamente, cavalgando sobre as águas semse afundar. Mas as surpresas não terminam para o senhor romano pagão. Maravilhado constatará que a sua montada se dirige para um barco, em pedra (!), que passa ao largo. Trata-se da embarcação que, velozmente e em apenas três dias, transporta o corpo de Santiago desde a Palestina até à Galiza. Perante os milagres de que é testemunha participativa, e face às explicações dos tripulantes do barco, Cayo Carpo converte-se nesse instante ao cristianismo.

Durante o seu regresso a terra, onde a multidão espera expectante e maravilhada por uma explicação, o noivo e o seu cavalo desaparecerão engolidos pelas águas do mar. E, quando a apreensão se começa a instalar entre as gentes, eis que o cavaleiro e a sua montada ressurgem já muito próximos do areal. Mas, novo milagre se havia processado: Cayo Carpo e o seu cavalo vêm completamente recobertos de vieiras, convertidas, a partir daí, num dos símbolos de Santiago. Nalgumas versões da lenda este episódio das conchas ocorrera antes, durante a cavalgada em direcção ao barco.

Nas narrativas mais antigas que conhecemos escreve-se que Cayo Carpo e a sua montada surgem na praia totalmente “matizados” de vieiras e, por tal motivo, este senhor romano passará a ser conhecido, desde então, por “Matizadinho” e, o local onde tudo isto se passou, por praia do “Matizadinho” – topónimo que evoluirá, durante os séculos seguintes, para Matosinhos”.

Um Abraço Galaico desde Matosinhos

1 comentário:

  1. Muito legal essa lenda. Ajuda na compreensão do legado do Caminho a Santiago de Compostela

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