Olá Galaicos, no próximo mês de Fevereiro iremos percorrer o planalto mais megalítico de toda a Ibéria. Trata-se de um local bem junto à outrora sede de concelho Castro Laboreiro. Esta Castro Laboreiro que dá o nome a um dos mais antigos canideos da Ibéria. Por estas duas razões, conhecer estes locais é conhecer muito das nossas raízes desde a Idade da Pedra até aos dias de hoje.
Castro Laboreiro.
Abaixo deixo um texto escrito por um especialista e que bem descreve toda a zona que iremos visitar.
ARTE MEGALÍTICA NO PLANALTO DE CASTRO LABOREIRO
(MELGAÇO, PORTUGAL)
António Martinho Baptista
Centro Nacional de Arte Rupestre. Vilanova de Foz Côa
Em Abril de 1990, na sequência de uma violação recente, detectámos a presença
de gravuras e restos de pinturas na Mota Grande, a maior mamoa do planalto
de Castro Laboreiro. Tendo em atenção a importância do achado e no sentido
de salvaguardar futuros vandalismos no monumento, realizámos de imediato o
levantamento das gravuras dos dois esteios decorados que foi possível
identificar. Posteriormente e porque o monumento, embora se localize em plena
linha de fronteira, está já na mancha galega do planalto, comunicámos estes
achados aos responsáveis do Património Histórico da Galiza. Por não
considerarmos este levantamento como um trabalho acabado, nunca o
publicámos. No entanto e talvez na sequência do nosso alerta, o Boletín
Avriense revelou a presença da arte megalítica na Mota Grande através de um
pequeno artigo, com um desenho sumário e imperfeito dos motivos.
Entretanto, o Parque Nacional da Peneda-Gerês, por protocolo com a Sociedade
Portuguesa de Antropologia e Etnologia, iniciou o estudo arqueológico do
megalitismo do planalto de Castro Laboreiro, tendo-se começado as escavações
a partir de 1992, com uma equipa constituída por Vítor Oliveira Jorge (a quem
foi entregue a coordenação científica do projecto), Eduardo Jorge Lopes da
Silva, Susana Oliveira Jorge e nós próprios. Entre 1992 e 1994, foram realizadas
três campanhas de escavações em monumentos situados na Portela do Pau, a
mais de 1 200 metros de altitude, em mamoas integradas no mesmo conjunto da
Mota Grande. Desde o início, quer o PNPG, quer a SPAE, procuraram alargar
o âmbito desta investigação a colegas da Galiza, facto que nunca foi possível.
Por outro lado, durante esse tempo, o PNPG disponibilizou verbas vultuosas
para esta investigação (“Castro Laboreiro, uma arqueologia da Paisagem”, assim
se chamava o projecto), que culminariam com a criação de um Museu de
Freguesia em Castro Laboreiro e de um “parque temático megalítico” no
planalto. Infelizmente, por razões várias, os trabalhos arqueológicos no planalto
foram suspensos a partir de 1995, tendo entretanto também a mudança de gestão
no PNPG em 1996 conduzido a uma alteração da política arqueológica do
próprio PNPG, desde então completamente paralizado no que à arqueologia diz
Durante as campanhas de 1993-1994 foram descobertos novos restos de arte
megalítica noutros dos tumulus da Portela do Pau, a mamoa 2, descoberta que
decorreu fruto da escavação. Conhecem-se assim no grupo de mamoas da
Portela do Pau dois dólmens decorados, havendo possibilidades de trabalhos
futuros poderem detectar novos restos artísticos. Também o levantamento
arqueológico da arte megalítica desta mamoa 2, devido ao tipo de vestígios que
ostenta e à interrupção dos trabalhos em 1995, nunca foi convenientemente
terminado, sendo passível de pequenos acertos no futuro.
Pese embora estes factores, são esses dois levantamentos “quase completos” que
trazemos à apreciação deste Colóquio.
A Mota Grande é a mais imponente mamoa do planalto de Castro Laboreiro. A
ela devia estar associado um menir que detectámos junto à sua base, removido
muito provavelmente pelos trabalhos de uma estrada que segue a linha de
fronteira. Na sequência dos alertas que lançámos junto das autoridades da
Galiza, este monumento, profundamente violado em meados dos anos 80, seria
parcialmente escavado e consolidado por uma equipa galega no verão de 1995.
Na altura, por deferência dos colegas galegos, acompanhámos estes trabalhos,
que se limitaram a uma melhor definição e desenho da estrutura da câmara e a
uma limpeza e leitura dos cortes e perfis deixados pelos violadores na mamoa.
Não tendo sido possível outro tipo de colaboração, não tivemos oportunidade de
corrigir o levantamento inicial das gravuras, que é o que agora apresentamos.
A câmara megalítica é de planta poligonal, tendo, pelo menos, dois dos seus
esteios gravados, respectivamente o primeiro e segundo esteios à esquerda da
pedra de cabeceira. A decoração é constituída pela habitual temática da arte
atlãntica megalítica, destacando-se uma representação de tipo “idoliforme”,
gravada em baixo-relevo, presumivelmente também com restos de pintura a
vermelho, rodeada de figuras meândricas. O motivo “idoliforme” está
aparentemente centrado no esteio, formando com a restante decoração uma
composição de carácter abstracto.
O segundo esteio citado, à esquerda do anterior, ostenta igualmente uma
composição centrada num conjunto de quatro círculos concêntricos rodeados por
linhas meandricas e quebradas. Por não termos efectuado qualquer escavação
neste dólmen, não foi possível determinar exactamente a base da composição.
Deve ressalvar-se o particularismo técnico dos gravadores que se terão
apercebido, talvez durante a operação de talhe do esteio, da presença de um
manto de pegmatites róseas na composição do granito. A superfície amarelada
do granito ligeiramente picotada deixava aparecer a camada rósea de pegmatite,
criando uma ilusão pictórica muito idêntica a uma pintura a ocre.
Relativamente à decoração do dólmen da mamoa 2 da Portela do Pau, ela é
quase inteiramente gravada, ostentando embora também restos de pintura a
negro. Aqui, após o restauro da cãmara megalítica (também ela de planta
poligonal e corredor indiferenciado) que se limitou à reposição dos sete esteios
ainda existentes “in loco” nas suas camas originais, foram identificadas
decorações em seis desses esteios. Apenas o primeiro esteio à direita não tinha
qualquer decoração. Esta é quase inteiramente formada por faixas ritmadas de
linhas quebradas, destacando-se a do esteio de cabeceira, a mais compósita, que,
quer pela formulação decorativa, quer pela própria forma do esteio, lembra uma
enorme placa de xisto! Por outro lado, a decoração deste dólmen, tem, ela
própria, alguns particularismos que importa destacar. Assim, ao contrário da
Mota Grande, o ordenamento decorativo é compósito e deve ser encarado como
um todo, não devendo isolar-se a sua temática que é aparentemente realizada
num único momento. As gravuras são finíssimas, muitas delas quase
imperceptíveis. Os restos de tintas negras em alguns sectores de pelo menos dois
esteios, levam-nos a considerar poderem estes ter sido inicialmente cobertos
integralmente por uma tinta negra e as gravações finamente realizadas sobre essa
tintagem negra. Esta tinta apareceria como um preparado. As datações absolutas
a partir de amostras de carvões, atribuíveis ao momento de “condenação” da
cãmara deram cronologias da primeira metade do IV milénio a.C. De acordo
com a hipótese interpretativa apresentada por Vítor Oliveira Jorge na publicação
destas datações (1996), a mamoa 2 teria sido construída “durante a segunda
metade do Vº milénio a.C.” É a este momento que deve ser atribuído o seu
“projecto decorativo”, que deve ser encarado como uma obra total, realizado
num único momento.
A decoração da Mota Grande, integrada no mesmo conjunto de mamoas, deve
ser atribuída “sensu latu” ao mesmo período cronológico.
Um Abraço Galaico