Um dos nossos tesouros da Gallaecia é esse castelo que habita nas fraldas da Serra Amarela. O Castelo do Lindoso é um dos castelos emblemáticos da Restauração da Independência que estamos a poucos dias de festejar mais um aniversário. Festejar, o que ninguém festeja, pois já quase ninguém sabe o significado do dia 8 e muitos nem sabem se seria melhor a nossa terra mistica, a nossa Gallaecia que o Afonso Henriques decidiu dividir e entregar aos dos sul nunca ter sido dividida.
O Castelo de Lindoso é um dos mais importantes monumentos militares portugueses, pela sua localização estratégica (tutelar sobre o curso do rio Lima junto à fronteira com Espanha, numa linha interior entre as serras da Peneda e do Gerês), mas também pelas novidades técnicas e estilísticas que a sua construção introduziu no panorama da arquitectura militar portuguesa medieval.
Apesar de ainda se discutir as suas origens, não restam grandes dúvidas de que a fortaleza medieval que se conservou até aos nossos dias é obra do reinado de D. Afonso III, uma vez que ela não aparece referida nas Inquirições de 1220 e, pelo contrário, é nomeada nas de 1258 (ALMEIDA, 1987, p.124). Paralelamente, a sua porta principal, de arco quebrado e virada à vila, ostenta a eixo o escudo do monarca, elemento propagandístico por excelência, mas também indicador claro do patrocínio e do marco histórico que a gerou.
Como fundação nova de um rei que pretendia afirmar-se (o primeiro a ocupar o trono português não por via filial directa) e que havia sido largamente influenciado por realidades políticas estrangeiras, Lindoso é um caso de excepção, uma vez que aqui se iniciaram algumas das mais importantes experiências de técnica e de arquitectura militares, que tanto marcaram as décadas seguintes. Ele encontra-se ainda muito ligado à tradição românica, nomeadamente por não contemplar torres a flanquear os panos de muralha - algo que poderá ter resultado de uma opção deliberada pela rapidez construtiva e pela economia de meios (IDEM, p.124). Mas integra já alguns elementos nitidamente góticos, como o adossamento da torre de menagem a um dos panos (neste caso o do lado oposto à porta principal) e a defesa dos muros por meio de matacães sobre consolas bem salientes (ALMEIDA e BARROCA, 2002, p.82), localizados preferentemente nas esquinas.
O traçado das muralhas revela um perímetro relativamente pequeno e regular, contrariando alguma da tendência natural das fortificações românicas para se adaptarem às curvas de nível. As esquinas são propositadamente arredondadas, para evitar os ângulos "mortos" e permitir uma total visibilidade das zonas circundantes. A torre de menagem, por seu turno, é ainda rudimentar, de apenas dois pisos e de secção quadrangular bastante ampla, resultando num aspecto algo atarracado (IDEM, p.82), mas contendo acesso superior directamente para o adarve, à maneira gótica. Estas características fazem dela uma obra de transição, mais facilmente integrável no ciclo construtivo do reinado de D. Afonso III, que no de seu sucessor, D. Dinis, como alguns autores pretenderam ver (Inventário, vol. 3, 1973, p.8).
No século XVII, na mesma altura em que Portugal lutava pela restauração da sua independência, esta secção interior do Alto Minho foi particularmente importante nas incursões de um e de outro lado da fronteira, e o castelo foi dotado de um sistema militar mais complexo. As obras estariam concluídas por volta de 1666 (data inscrita no lintel de uma das portas), escassos três anos depois de ter sido conquistado por tropas espanholas e, de novo, reconquistado pelos portugueses. É de crer, no entanto, que esta empreitada se tenha arrastado por mais algumas décadas, pois data de 1720 a conclusão do principal revelim, aquele que protegia a entrada principal. O novo complexo defensivo actualizou a fortaleza, rodeando-a de uma estrutura em estrela, com altos taludes e fossos, e acesso por porta levadiça encimada por matacães.
Como monumento emblemático da história nacional, o castelo não escapou à vaga restauradora estado-novista. O grosso dos trabalhos decorreu na década de 40 do século XX, mas prolongou-se pelos anos seguintes, deles se salientando a reconstrução de panos de muralha e de ameias e a demolição de algumas estruturas no pátio, conservando-se, ainda, a cisterna e parte das dependências do governador e outras de apoio. Nos últimos anos, foi arqueologicamente explorado, num amplo projecto de estudo da região.
Abraço Galaico
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